Em 2022, os trabalhadores portugueses sofreram na pele os resultados da inflação mais elevada dos últimos 30 anos. 7,8% foi o valor oficial, mas na verdade esse foi apenas o valor médio.
O custo do crédito à habitação – a maior fatia do orçamento das famílias portuguesas - mais do que duplicou, a alimentação aumentou mais de 20%, assim como a energia e quase tudo o resto.

O país descobriu que tinha uma crise habitacional de décadas, milhares de novos dos ditos “sem abrigo”, apareceram nas ruas das grandes cidades e o fim da pandemia deixou para trás a maior
crise de saúde mental da História. Conhecida mundialmente pela generosidade com que trata os seus trabalhadores, ou como ela diz, os “WT Players” ou colaboradores – a administração da WTPlay resolveu responder a esta crise sem precedentes, aumentando os salários em cerca de 2,5%, ou seja, 20 euros, um gelado, uma sessão de yoga e uma massagem.

Na sequência dos plenários realizados para auscultar os trabalhadores, o SINTTAV enviou para a WTPlay, logo no início do ano, uma proposta de revisão salarial que lhe pareceu razoável, mas que rapidamente se percebeu ter sido ultrapassada pelos acontecimentos.

A gestão da WTPlay apressou-se a responder que NÃO!
Não aos aumentos salariais!
Não ao aumento do subsídio de refeição!
Não à criação do subsídio de Transporte!
Não à reversão da política de folgas por compensação de trabalho efectuado!
Não... Não... Não.

O SINTTAV solicitou o agendamento de uma reunião presencial para apresentar o sindicato e os seus objectivos para o quadriénio 2023-2027, a qual se realizou no passado dia 26 de Junho, em que na
mesma houve oportunidade também aproveitada para falar de aumentos salariais e outras questões laborais, tais como a entrega do abaixo-assinado em defesa das propostas anteriormente apresentadas que contou com as assinaturas de 60% dos trabalhadores da empresa.

Uma reunião importante, além de um encontro normal entre parceiros negociais, num país com os mínimos olímpicos civilizacionais.

A REUNIÃO FOI CONFRONTACIONAL. O CEO piou muito. Recheada de apartes, “bocas”, paternalismo, além do tratamento por tu à dirigente sindical que o CEO parecia ver como a parte
mais fraca, talvez por ser mulher.

Restaurada a tranquilidade dos presentes, e como a delegação da empresa não parecia ter em mente sequer a proposta dos trabalhadores que supostamente deveriam estar ali a discutir, marcou-se outra reunião que, por motivos de agenda, só teve lugar passado dia 25 de Setembro, em Setembro, exactamente 3 meses depois da anterior.

O SINTTAV esperou que com todo este tempo de dilatação, a WT PLAY tivesse respostas concretas para as justas reivindicações apresentadas. Mas iniciada a segunda reunião, com os mesmos intervenientes, o sorridente Sr. André Câmara tomou a palavra para dizer a seguinte frase: “Bem, analisada a vossa proposta, lamentamos, mas temos que recusar todos os pontos”.

O representante da delegação sindical respondeu: “Meus senhores, obrigado pela vossa disponibilidade, desejamos-vos uma boa tarde.” - perante a incredulidade dos presentes do lado da WTPlay que claramente esperavam outro tipo de reacção por parte dos trabalhadores.

A REUNIÃO DUROU, NO TOTAL, 1 MINUTO E 47 SEGUNDOS.
Não é este o tipo de diálogo que o SINTTAV defende e pratica.
Mas é este o tipo de diálogo (de surdos) que a gestão da WT Play conhece.

Quando, para os problemas laborais, não há solução através do diálogo, resta aos sindicatos e trabalhadores a outra alternativa que é a LUTA.
Perante a postura anti-negocial demonstrada pela administração da empresa ao longo deste processo, o sindicato requereu ao Ministério do Trabalho a convocação de uma reunião de

Prevenção de Conflitos (designada Conciliação) que se realizará no dia 26 de Outubro de 2023.
Se nesta reunião, que também é negocial coordenada pela DGERT, se a postura da WT Play não se alterar, serão os trabalhadores a responder.

CONCLUSÃO. O que chateia trabalhar na W, principalmente no meio desta crise, não é o facto de ela ser especialmente diferente, para pior, do que muitas empresas que no essencial apenas se limitam a vender a mão de obra dos outros, o nosso limitado tempo de vida.

O que chateia na W são os anglicismos sem sentido para demonstrar uma modernidade que todos sabemos que não existe, principalmente naquilo que devia ser mais importante para o seu sucesso, a relação com os seus trabalhadores.


O que chateia na W são os processos disciplinares do André.
O que chateia na W são os e-mails passivo-agressivos do André.
O que chateia na W é a enorme e colossal falta de noção em quase tudo o que se faz.
O que chateia na W é a “azeitisse” institucional.
O que chateia na W é a sua insistência na falta de genuinidade.
O que chateia na W é a hipocrisia.

Mas o que chateia mesmo na W é que naquela manhã de Setembro, aquelas três pessoas que são responsáveis pelos trabalhadores da W, estavam à espera que alguém mendigasse um aumento em seu nome pelo mero e pequeno prazer de dizer não.

Os trabalhadores não são mendigos, não imploram por aumentos, exigem-nos!

Fonte: SINTTAV