naufA CGTP-IN expressa o seu profundo pesar e indignação por mais uma catástrofe humanitária que, no Mar Mediterrâneo, ceifou a vida de quase mais 900 pessoas, a juntar aos muitos milhares de mortos que, sobretudo nos últimos 5 ou 6 anos, transformaram este mar num verdadeiro cemitério de crianças, mulheres e homens, que, em crescente número, tentam alcançar as costas da Europa em busca de uma vida melhor ou simplesmente fogem da morte, provocada por sangrentos conflitos armados nos seus países de origem, no Norte de África, Médio Oriente ou África Subsaariana.

Estes massivos movimentos de populações, que tentam sair da pobreza e da devastação da guerra, procurando emprego ou asilo, tem causas de fundo que radicam sobretudo nas desigualdades e desequilíbrios crescentes entre continentes e países, resultantes de um capitalismo crescentemente agressivo e explorador dos trabalhadores, dos povos e dos recursos naturais dos países de origem, onde, para garantir crescentes lucros e domínio geoestratégico, desenvolvem guerras de agressão, ocupações e ingerências.

A CGTP-IN afirma também que a actual magnitude desta tragédia humanitária se deve igualmente à politica externa totalmente errada prosseguida nos últimos anos pela U.E. em relação aos países do sul do Mediterrâneo em que, a coberto de apoiar os Povos que aspiravam a uma "Primavera Árabe", se tem vindo a desestabilizar politicamente vários Estados da região, designadamente a Líbia, país que, após uma intervenção das forças europeias, caiu num caos total.

É particularmente chocante a hipocrisia da União Europeia e dos seus estados membros que, agora se reúnem de emergência, ao fim de tantos anos de milhares de mortos na região, em vez de terem promovido a ajuda ao desenvolvimento desses países, como se comprometeram no quadro das Nações Unidas, numa base solidária. Pelo contrário, o que a UE impôs a um grande número desses países foram parcerias de cariz neocolonial, sufocando o crescimento, o emprego e o desenvolvimento sustentável desses países de África e do Médio Oriente.

Hipocrisia, como as intervenções de agressão e ingerência movidas pelas maiores potências europeias como a França, Itália e Reino Unido, de que são gritantes exemplos a Líbia, a Síria, o Mali, o Chade, a República Centro Africana, a Somália, a Eritreia, etc.

Hipocrisia com medidas de cariz securitário adoptadas pela UE relativamente aos imigrantes dos países terceiros, bem patentes no reforço da presença da marinha de guerra para impedir a deslocação dos imigrantes, no quadro da agência europeia Frontex, em vez de uma presença de meios de salvamento, numa perspectiva humanitária; a adopção de Directivas Europeias anti-imigração, como a famigerada Directiva do Retorno e a permanente estigmatização da imigração associada ao terrorismo.

Hipocrisia das instituições europeias, que culpam unicamente as terríveis redes de tráfico humano, que se aproveitam do desespero de milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade extrema, omitindo que estas redes surgem e engordam à conta das recentes políticas de imigração e de relações externas adoptadas pela União Europeia e à sombra da indiferença da comunidade internacional.

A CGTP-IN afirma que basta de cinismo, silêncio ou palavras ocas das instituições europeias e da maioria dos estados membros. É tempo de parar o sofrimento, a morte e esta terrível catástrofe humanitária. Os migrantes e os cidadãos que pedem asilo têm direito à vida, ao trabalho, à segurança e à inclusão social em condições de igualdade e solidariedade.

É absolutamente necessário e urgente uma mudança de politicas na UE, que conduzam à adopção de medidas e mecanismos eficazes e seguros de gestão dos movimentos migratórios e de direito de asilo, na perspectiva do acolhimento solidário e humanista dos cidadãos dos países terceiros.

Respondendo a esta situação catastrófica e de enorme magnitude no Mediterrâneo, foi recentemente criada uma Rede Sindical para as Migrações no Mediterrâneo e África Subsaariana, que a CGTP-IN integra.

Neste doloroso momento, a CGTP-IN envia aos familiares dos imigrantes mortos neste terrível naufrágio as suas profundas condolências e solidariedade.

A CGTP-IN reafirma que prosseguirá o seu activo empenhamento na luta pelo fim dos conflitos e pela paz na região mediterrânica e por políticas migratórias e de asilo respeitadoras da vida e dignidade humanas, inclusivas e solidárias para todos.

Lisboa, 21 de Abril de 2015

Departamento de Migrações da CGTP-IN

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